12 outubro 2007

iVingança


A palavra da semana é bricked. Vem do inglês, quer dizer ‘tornar tijolo’. Quando você tanto mexe em seu computador – ou iPod, ou console de games ou seja lá o quê – a ponto de que a máquina não liga mais de não ter conserto, ela foi bricked. Virou peso de papel dos mais caros. Virou tijolo.

Alguns iPhones foram bricked esta semana.
Aconteceu assim: a Apple divulgou o primeiro update no software do telefone, que tapa uma série de vulnerabilidades do aparelho. A maioria dos problemas estavam no Safari, o browser, mas havia também um galho ou outro no email e um terceiro no protocolo bluetooth. Evidentemente, estes updates são naturais.

Nos EUA, os iPhones foram vendidos com contratos para a Cingular/AT&T, uma das operadoras de celulares do país. Nas semanas seguintes ao lançamento, alguns hackers desenvolveram produtos para destravar o iPhone, permitindo que operasse com qualquer operadora. E muitos usuários instalaram a modificação.

Quem modificou seu iPhone e fez o update do sistema se danou: o telefone sequer liga. Não apenas deixou de operar como celular, mas também não funciona para navegar pela internet via WiFi ou toca músicas como iPod. Sequer liga mesmo.

Conforme a palavra bricked começa a se popularizar pela imprensa americana, a Apple já havia anunciado que não se responsabilizaria por ninguém que hackeasse o iPhone. Quem o fez, correu risco por conta própria.
A Apple ganha um percentual da conta de telefone de cada usuário do iPhone, então tem interesse nesta parceria com a AT&T. Ainda assim, há um debate entre os analistas. A dúvida: a empresa detonou propositalmente os celulares hackeados ou foi sem querer?

Pode ter sido sem querer. Como a mudança que permite o uso de outras operadoras passa por modificar o modem do iPhone, como o update mexe no bluetooth, pode ser que algo desta modificação tenha inutilizado o aparelho. A preocupação, afinal, era consertar um problema nos iPhones normais e ninguém se preocupou com aqueles porventura modificados.
Ou então a Apple simplesmente puniu, mesmo, quem alterou o aparelho.
Quem modifica um aparelho digital o faz, sempre, por sua conta e risco. Mas a Apple deixou uma trupe de usuários frustrada – e estes não são quaisquer usuários. Este número – que varia entre 2% e 10% dos compradores dos iPhones, segundo as estimativas na praça – são os mais tarimbados tecnicamente.
Isto quer dizer o seguinte: são as pessoas, na família ou no escritório, que os outros procuram na hora de comprar um computador ou uma câmera digital ou um player de MP3.
Sempre que se faz algo contra o pequeno percentual de pessoas que manja muito de tecnologia, corre-se um risco grande. Dificilmente eles recomendarão um aparelho daquela marca novamente.

Certamente há um problema ético, aí.
Os grupos de hackers já estão trabalhando ininterruptamente. Até o fechamento desta edição, já haviam conseguido recuperar alguns iPhones, reinstalando a versão anterior do sistema. Mas ainda era uma recuperação parcial. Funciona como iPod, como computador de bolso. Como celular, não. É bem possível que consigam recuperá-los por completo. Essa turma é mágica.


Assim, periga que tudo vire um jogo de gato e rato, com no próximo update a Apple inutilizando mais uma penca de aparelhos e os hackers conseguindo reverter o processo indefinidamente. No meio do caminho, utilizando-se de uma estratégia de medo, por certo a empresa de Steve Jobs conseguirá dissuadir muita gente de tentar libertar seu iPhone.

Mas cá fica um gosto amargo que a Apple nos deixa.

[via link g1]